Quem teve o privilégio de conhecer o Dr. Eliezer Batista tem sempre inúmeras lembranças de suas histórias divertidas usadas para apoiar um ponto de vista, um projeto ou apenas uma ideia.
Lembro-me de quando, em meados da década de 80, se popularizou no mundo a palavra japonesa “zaibatsu”, que significava um conglomerado de empresas, em geral apoiadas por uma grande trading company, de forma a potencializar a ação dessas empresas no plano mundial.
Eram empresas saudáveis procurando se tonar ainda mais competitivas e capazes de acessar mercados mais amplos.
No Brasil, como dizia Dr. Eliezer, surgiram também alguns conglomerados de empresas, mas, deturpando o conceito original, grupos de empresas em má situação financeira que tentavam explorar o conceito “too big to fail” (grandes demais para falir).
Ele, de forma bem-humorada, demonstrava o conceito abrasileirado de zaibatsu durante nossos almoços apoiando talheres uns nos outros, de forma que compreendêssemos que sozinhos eles não se sustentavam, mas um escorando-se no outro era possível.
Segundo ele, as empresas juntavam-se assim, em delicado equilíbrio, e corriam para pedir socorro ao governo.
Nós vamos experimentar no Brasil um período de grandes desafios decorrentes da reacomodação do comércio internacional e de alguns problemas internos, como a perda da dinâmica populacional.
Ambos os fatores já estão gerando enormes dificuldades para algumas empresas e afetando profundamente a cidade do Rio de Janeiro e, em particular, o seu Centro.
Qual o zaibatsu à brasileira do Dr. Eliezer, não será pela alocação de subsídios a lojas e comércios moribundos que se salvará a cidade. A solução é implantar propostas inovadoras e que possam dar rápidos resultados.
O governo municipal tem, por sinal, adotado boas políticas horizontais, ou seja, genéricas, que favorecem a existência de projetos de porte pequeno e médio como os que beneficiaram o antigo edifício A Noite e o edifício Mesbla e também a política municipal que favorece a desapropriação e licitação de casarões abandonados com o compromisso de o adquirente restaurá-los.
São boas políticas, mas são de resultados lentos – e correm o risco de o peso das vizinhanças ameaçadoras comprometerem o seu sucesso.
Uma ideia que tem encontrado apoio em diversos segmentos é a transferência de unidades da UFRJ hoje alocadas na Ilha do Fundão para o Centro da cidade, com isso ocupando diversos edifícios históricos e muitos andares vazios de edifícios comerciais altamente desvalorizados.
Isso favoreceria iniciativas de retrofit de antigos edifícios comerciais, transformando-os em residências de funcionários, alunos e professores – algo que pode alcançar até 50 mil habitantes, se computadas as outras universidades já existentes no local. Imaginem o efeito disso no reviver do comércio de rua.
Outra relevante contribuição seria proporcionada por saudáveis empresas brasileiras que deram expressão mundial à nossa engenharia, a Petrobras, a Eletrobras, a Light, a Vale, por exemplo, que poderiam ocupar uns 5 ou 6 andares atualmente vagos do Edifício do Clube de Engenharia e fazer daquele ponto histórico um museu e centro difusor de conhecimento em engenharia, especialmente voltado aos cursos do ensino fundamental e médio.
O Brasil constata o total desinteresse das novas gerações pelas carreiras tecnológicas, o que se deve muito ao desmonte da engenharia nacional que vem sendo praticado desde o início da década de 90 do século passado.
A engenharia, antes uma profissão muito disputada por alunos, hoje tem vagas sobrando nas universidades.
Não deixa de ser emblemático observar que dos 513 deputados federais brasileiros apenas 26 declararam sua formação em engenharia. Deixou-se completamente de incentivar junto aos jovens carreiras assim tão vitais para o século XXI.
Antes que estes postos venham a ser ocupados de novo com exclusividade por estrangeiros, temos que formar alunos com a mentalidade de que o Brasil não é um produto acabado e de resultados desanimadores.
Pelo contrário, o Brasil constitui o arcabouço de uma civilização tropical única, de grande expressão que agora enfrenta dificuldades técnicas e políticas, mas que tem todas as condições em termos de recursos naturais e humanos para construir um melhor futuro para sua gente.
É necessário acreditarmos em uma obra conjunta dos brasileiros – e não acharmos que nossos problemas serão resolvidos com discursos verborrágicos em assembleias provincianas ou favores eventuais de um país estrangeiro.
José Luiz Alquéres é Conselheiro do Clube de Engenharia.
Fonte: Diário do Poder